20 de agosto de 2007

Dedão


Sara era uma menina recém banguela. Seus dois dentes-de-leite da frente haviam caído simultaneamente com sua popularidade junto aos meninos, permanecendo em alta os carrinhos e videogames. Mas isso só seria um problema quando aprendesse fora da escola o que era paixão e amor. Enquanto isso, ela mostrava o lado positivo da vida, fechando a mão com o dedão para o alto e colocando-o na boca com a finalidade de ocupar os lugares vazios.

- Tira esse dedo da boca, Sara!

Ela fingia que não escutava, como se o tal dedão tivesse no ouvido e não na boca. E lá vinha a segunda advertência seguida de um pequeno tabefe.

- Tira esse dedo, Sara. Que feio.

Sua mãe abaixou, segurou em seus ombros e complementou dizendo que não queria perdê-la. Sara não entendeu. Fez que sim com a cabeça, mas cruzou os dois dedos que vêm logo após o dedão atrás das costas.

Na noite seguinte, todos dormiam. Sara já era uma mocinha e tinha sua própria cama. Deitada, ouvia apenas o silêncio de coisas que não costumam se mexer de manhã, mas não viu ninguém entre o dedão e sua boca.

Chupar o dedo deu a ela uma sensação boa, mas resolveu fazer diferente: assoprou. Estranhou ao olhar seus braços um pouco mais roliços que o normal, mas inspirou forte novamente e assoprou mais uma vez, bem demorado. Seus pés incharam junto com suas canelas, ficando mais leves.

Sara continuou e foi se transformando rapidamente em um balão. Já flutuava pelo quarto, brincando de pegar impulso nas paredes, quando saiu pela janela. Ao passar pelo quarto de sua mãe, quis mandar um beijo mas seu braço não alcançava mais a boca.

Subiu. Alto, bem alto. Passou por prédios, montanhas e flutuou em direção à lua. Não demorou muito para Sara se sentir sozinha no meio daquele escuro. Afinal, as estrelas não iluminavam tanto quanto seu abajur de ursinhos, aceso durante toda noite. Começou a chorar, alternando lágrimas com chamados por sua mãe. Mas ela não ouviu. Deveria estar bem longe, ou com o dedão no ouvido.

Foi quando Sara cansou de chorar, dando lugar a um imenso suspiro. Notou que seus tornozelos diminuíram e suspirou novamente. Lentamente, seu corpo foi descendo e já conseguia ver o lago lá embaixo. Mais suspiros, menos altura e finalmente voltou ao seu quarto. Seu nariz ainda estava um pouco mais arrebitado que o normal, mas preferiu deixar como estava. Quem sabe assim, sua popularidade subiria uns 4,2 pontos.

11 de agosto de 2007

Um dia Perfeito


Vê como são as coisas. O Gasta recebeu uma corrente para escrever sobre o tema “Um Dia Perfeito”. Eu conheço o sujeito e sei que ele detesta essas mensagens de quebra-cabeça-com-canção-da-Bela
-e-a-Fera-em-forma-de-Power-Point, mas dessa ele gostou. Acabou escrevendo um mini conto com um final pra lá de feliz. Sabe aquelas histórias de casal que começam bem, acontece um desastre atrás do outro e no final dá tudo certo? Pois ele escreveu apenas o final. Tá certo. Perfeito é esquecer tudo e ir direto pro que é bom. Como toda corrente, ele tinha passar para alguém e os sorteados foram eu e a sensacional Ana Tejo. Com o bastão na mão, fiquei sabendo de outra coisa bem boa: a corrente foi criada pela Fabi, uma amiga querida e de um humor ácido sulfúrico. Mundo pequeno? Não. O mundo é perfeito.

Tá. Vou parar de enrolar. Aqui vai “Um dia perfeito” em um estilo debochado, coisa de samba de mesa cantarolado com um sorriso de canto de boca, meio Zeca Pagdinho, meio Dicró. Abraços!




FUGA

Já fugi de tudo quanto é lugar
Do Carandiru junto com o Beira-mar
Me mandei do Bangu um, dois e três
Bem mais de uma vez

Corri de Pastor Alemão lá no Piranhão,
Escapei na rebelião lá do Conceição.
E até pulei o muro de Alcatraz
Ô rapaz...

Tô acostumado com isso,
As regras dos homi eu desconheço
Educação nunca tive,
Quando bebê serrava até berço

E na fuga eu volto pro morro,
E na chegada foguetório é geral.
No seu sorriso um lindo bem-vindo,
E a vida parece que volta ao normal.

Mas sempre que fujo não tem erro
Eles sabem bem onde me encontrar,
Se for procurar vão sabê que tô lá,
Na sua prisão domiciliar

Porque tava escrito na minha sentença
Passar a minha vida toda preso em você
Pois o nosso amor é no esquema
Rola cafuné e massagens, menos algema

E hoje perdi as contas dos túneis que fiz
Só pra te encontrar
Pulei arame farpado que fez cicatriz
Só pra te abraçar

E porquê?
Porque é mais fácil fugir daqui do que do seu olhar.




Agora eu passo a bola pro .
Conhece? Não? Então vai lá pra ver do que esse cara é capaz.
Bora, Zezinho. Manda ver.