28 de abril de 2008

Pêndulo


Olhou pro alto e viu seus pés.

Não havia o que fazer naquele mundo invertido a não ser esperar. Poderia fumar um cigarro até alguém chegar, talvez. Ou quem sabe pegar o celular. Nos dias de hoje, as pessoas que não fumam pegam o celular quando estão esperando. Olham para ver se alguém ligou, se existe alguma mensagem ou simplesmente para saber a hora.

Sim, fazia horas que ele estava pendurado. Se fumasse, já teria facilmente queimado a corda. Se tivesse um celular naquele momento, já teria ligado e pedido ajuda. Se tivesse os dois, já teria feito uma messagem de fumaça McGyver, unindo o fogo do isqueiro ao aparelho. Várias soluções teóricas e nenhuma prática em sua mente inchada pelo sangue que corria pra cabeça.

Olhou pro alto e viu o galho da árvore.

Nunca havia torcido tanto para uma árvore cair. Se tivesse comido mais carne e fritura ao invés de salada, pesaria mais e aumentaria as chances dela cair. Era chegada a hora da vingança da árvore por todas as folhas que comeu na sua vida. Desista. É mais fácil esse galho aprender a brincar de iôiô com você.

Aquilo seria seu fim. Sentia a angústia e a solidão de uma espera por nada. Não podia nem sequer se concentrar para o que filme da sua vida passasse em sua cabeça febril. Um grito? Ninguém pode ouvir você e não existe nada que…

- Carrrrrrlinhhooooooosssss!
- Que é mãe!
- Pára de brincar com esse balanço e vem logo comer.
- É salada?