
Tinha o hobby de escrever sobre linhas extremamente perigosas. Dissertava longos poemas por trilhos que apitavam com insistência de quem não queria ferir, mas infelizmente não poderia parar. Suas sílabas nem ao menos gaguejavam. Permaneciam imóveis como se estivessem amarradas com cordas fortes, porém eloquentes como se não existissem panos em suas bocas.
Eloquencia sem tremer nem trema. A extensa pauta de seus cadernos era um imenso precipício, um abismo de onde empurrava suas vogais com violência. Era preciso. Elas haviam de aprender a se multiplicarem a partir do eco.
Ao término de cada linha, amarrava anzóis pontiagudos e sadomasoquistas que possuíam a maldade de pescar as hifenizações. O complemento da palavra olhava para a linha de cima com dor, mas seguia forte mesmo tendo que ser lido de forma abrupta. Seus leitores empenhavam-se em suportar a tinta vermelha que pingava sobre o papel branco, transformando em acentos graves o que antes era craseado com uma certa dúvida.
Usava os vocábulos que bem entendia. Não se importava em cansar palavras por conta de seus vícios de linguagem e gírias superficiais. Enquanto algumas eram soletradas diariamente, outras caíam vertiginosamente em desuso. Seu destino era o calabouço das páginas esquecidas do dicionário. A palavra nunca fugia do seu raciocínio e cumpria sua pena até o dia em que o autor picotava as linhas, escrevia algumas letras em espaços pontilhados e condenava vosmicê à forca.